Sobre a Revista

Expediente

Revista Cactácea - Educação, Filosofia é uma publicação eletrônica online do IFSP Câmpus Registro de periodicidade quadrimestral (3 edições por ano).

Equipe Editorial

Profa. Dra. Ofélia Maria Marcondes
Prof. Dr. Sandro Adrián Baraldi

Ano de Lançamento

2021

Objetivo

Contribuir para a divulgação e a visibilidade de autores preocupados com críticas sociais, com a difusão do pensamento e da análise dos fenômenos ligados à formação humana e promover amplo debate crítico entre diferentes áreas do conhecimento humanístico tanto no que se refere à filosofia e à educação como cultura, literatura, ciências, em busca de fomentar um diálogo interdisciplinar.

Justificativa

Em um mundo em que prevalece o pensamento acrítico, a obediência sem questionamento, a banalidade do mal, a "imunização da manada", vemos necessidade de apontar rupturas epistêmicas para rumos mais humanos não especistas. Cremos que esta astronave, o planeta Terra, conta com uma tripulação - humana e não humana - que precisa urgentemente reencontrar seu equilíbrio. A única maneira de reverter esse processo insano e destrutivo é por meio de narrativas que valorizem e revalorizem aspectos sociais não destrutivos, hoje em franca decadência.

URL

https://rgt.ifsp.edu.br/ojs/index.php/revistacactacea/index

Clique aqui para mais informações sobre a revista.

Edição Atual

v. 4 n. 12 (2024): Decolonialidade antropofágica: Quanto mais devemos progredir?

mceclip0-996a756c4702297a33381fda7c2df3e1.jpg

Editorial: Progresso infinito é um regresso?

Sandro Adrián Baraldi

Tempos escuros se aproximam. Depois do banquete dionisíaco que durou duzentos anos, de crescimento e devastação ininterrupta, o tempo da ressaca chegou. O planeta também se ressente e, tal qual nosso mundo “civilizado” em queda, ataca furiosamente quem o magoou. Ciclones, tempestades, seca, inundações; calores e frios extremos marcam essa passagem para uma nova era desesperadora. A guerra contra a natureza, que começou com Francis Bacon, está prestes a terminar e, como prevíamos, a natureza venceu. A arrogância humana vai pagar por isso do pior modo.

O quanto somos culpados por tudo isso?

No século XIII, o filósofo Agostinho de Hipona entendia que a natureza era boa e estável, pois foi criação divina e, por isso, ela devia ser preservada do jeito que estava. Contrapondo essa ideia de estabilidade, no século XVI, Francis Bacon sustenta que a ciência, a racionalidade, deveria fundar as ações humanas e não depender de explicações cuja origem fosse de caráter religioso. O pensamento de Bacon surge de uma nova postura política medieval que estava enfrentando a Igreja – a Reforma e a Contrarreforma. A racionalidade se sobrepõe ao caráter místico da Igreja Católica. A partir desse momento, o ser humano, possuidor de racionalidade, pode alterar a natureza a seu bel-prazer sem temer a ira divina. Descartes, no século XVII, baseado na racionalidade, renega por completo a ideia de corporalidade. A subjetividade cartesiana invisibiliza a natureza material, reservando-lhe um lugar puramente utilitário. Esse movimento racionalista coincide, não por acaso, com a queda de Constantinopla, as grandes navegações e os empreendimentos mercantilistas da modernidade. Esse gatilho inicial da Modernidade foi formando a ideia de progresso, de avançar, de crescer, de desenvolver, de enriquecer, de tomar e de subjugar, de maneira que a ideia de progresso espiritual, originário da idade média, podia também ser progresso material, pela via racional, científica.

No XVIII, Auguste Comte defende que o progresso depende da ordem e, no século XIX, Charles Darwin afirma a evolução humana como manifestação do progresso natural. No século XX, estabelecida a ordem que leva ao progresso do ser mais evoluído de todos, o ser humano, Filippo Marinetti propõe que o progresso deve ser acelerado; a velocidade é fundamental para o progresso humano. É a era do Manifesto Futurista de 1909.

O progresso, força cultural e antinatural que dá vida ao monstro “frankensteiniano” dos capitalismos mercantilista, industrial e financeiro, criatura furiosa e faminta por lucro a qualquer preço, ainda anima a nossa imaginação levando as tendências suicidas ao ponto do não-retorno climático.

Até hoje, mesmo em plena crise ambiental, ainda vemos como a ideia de progresso é forte. Séries de TV como Star Trek, com seu mote: “Audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve”, e a animação Toy Story, na qual o personagem Buzz Lightyear repete: “ao infinito e além”, assim como muitas outras; dentre elas Jurassic Park, que “critica” a manipulação genética, e Exterminador do Futuro, que “critica” a inteligência artificial, garantem que essas possibilidades se tornarão reais. Ah! E não esqueçamos de que em todas as histórias em que aparecem alienígenas, eles são seres evoluídos, naturalmente ou tecnicamente, mas sempre superiores aos humanos.

Fica a pergunta, por enquanto sem resposta conclusiva: onde queremos chegar com esse progresso todo?

Publicado: 01.11.2024

Edição completa

Ver Todas as Edições