Sobre a Revista
Expediente
A Revista Cactácea - Educação, Filosofia é uma publicação eletrônica online do IFSP Câmpus Registro de periodicidade quadrimestral (3 edições por ano).
Equipe Editorial
Profa. Dra. Ofélia Maria Marcondes
Prof. Dr. Sandro Adrián Baraldi
Ano de Lançamento
2021
Objetivo
Contribuir para a divulgação e a visibilidade de autores preocupados com críticas sociais, com a difusão do pensamento e da análise dos fenômenos ligados à formação humana e promover amplo debate crítico entre diferentes áreas do conhecimento humanístico tanto no que se refere à filosofia e à educação como cultura, literatura, ciências, em busca de fomentar um diálogo interdisciplinar.
Justificativa
Em um mundo em que prevalece o pensamento acrítico, a obediência sem questionamento, a banalidade do mal, a "imunização da manada", vemos necessidade de apontar rupturas epistêmicas para rumos mais humanos não especistas. Cremos que esta astronave, o planeta Terra, conta com uma tripulação - humana e não humana - que precisa urgentemente reencontrar seu equilíbrio. A única maneira de reverter esse processo insano e destrutivo é por meio de narrativas que valorizem e revalorizem aspectos sociais não destrutivos, hoje em franca decadência.
URL
https://rgt.ifsp.edu.br/
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Edição Atual
Falar de decolonialidade e educação é, necessariamente, falar de uma pedagogia cujos processos e práticas estejam suleadas por fundamentos e ações que nos levem a inverter, substituir, criticar e alterar o modo de pensar o mundo e as relações que são resultado de um legado do mundo colonial. Em outras palavras, é colocar em tela a necessidade da construção de uma pedagogia que rompa com o pensamento hegemônico europeu, branco, masculino, cujas bases são o patriarcado, o machismo, o cristianismo.
Em termos de fundamentos filosóficos para a construção de uma pedagogia decolonial temos as reflexões de Catherine Walsh, Walter Mignolo, Paulo Freire, Frantz Fanon que contribuem para que possamos discutir uma nova pedagogia. Ao longo desses quatro anos da Revista Cactácea pudemos ler textos críticos baseados nesses autores, mas como Sandro Baraldi sempre pergunta: quais são, de fato, as ações decoloniais? Como podemos, na prática cotidiana, na produção de nossa existência, contribuir para a (re)construção do mundo e que seja possível nos libertarmos das amarras da colonialidade?
Em educação acontece o mesmo: como alterar as práticas para que possamos efetivar uma pedagogia decolonial? É possível um modelo de educação escolar que, efetivamente, suleie, inverta, altere, substitua e critique o legado imposto pelo eurocentrismo e o pensamento hegemônico que sustenta as desigualdades, a opressão e a violência?
Eu penso que sim, que há ações e práticas pedagógicas capazes de fundamentar uma nova pedagogia, uma pedagogia decolonial, sem que nos esqueçamos de que a teoria pensa a prática e a prática nos leva a repensar a teoria. A pedagogia decolonial é ação de resistência e de recuperação de saberes, é espaço para as vozes silenciadas pelo patriarcado e pelo pensamento europeu, é lugar de visibilização dos invisibilizados pela força da branquitude, é busca cotidiana de crítica. Aquelas e aqueles que buscam transformar sua prática pedagógica pensada a partir de uma epistemologia decolonial precisam ser criativas e criativos.
Essa prática decolonial exige uma análise criteriosa do material didático utilizado, exige também a elaboração cuidadosa de todo material que é proposto, exige uma leitura de mundo radical, profunda, que leve em conta o contexto de sua prática e as necessidades postas pela comunidade. Quanto mais hierarquizada a escola, mais ela perpetua a colonialidade. Quanto mais material didático previamente preparado pela indústria editorial ou pelo estado, mais a escola reproduz o pensamento hegemônico. Quanto mais a escola valoriza a competição, mais se aproxima da ideia de uma sociedade meritocrática que, sabemos, é injusta na oferta das possibilidades de produção da existência e de um pensamento renovado, outro.
Uma pedagogia decolonial é uma prática outra que tece relações e ações coletivas, que valoriza a subjetividade como expressão da vida e da possibilidade de criar um mundo igualitário, que valoriza saberes e conhecimentos outros, que ouve as vozes dissonantes do falar hegemônico, que abre espaço para a ancestralidade, que valoriza a presença das crianças, dos adolescentes, dos jovens, dos adultos e dos idosos no fazer pedagógico cotidiano.
A ferida colonial permanece aberta. O colonialismo, e a colonialidade que dele deriva, nos fere com o ódio, o preconceito, o machismo, a branquitude, o desejo de silenciar o outro cuja existência é permanentemente negada. A pedagogia decolonial, em oposição, amplia as vozes, sustenta a prática pedagógica com o diálogo, entretece existências, abre espaço para a convivência, para a compreensão, para a colaboração, para a construção de um cotidiano que está para além da escrita, da leitura, do cálculo. Como Catherine Walsh afirma, a pedagogia decolonial torna-se um instrumento que pode fraturar a modernidade e a colonialidade. A prática pedagógica em chave decolonial torna possível maneiras outras de pensar, de sentir, de ler o mundo, de ser e de estar. A revolução silenciosa que a educação decolonial opera é perpassada por uma prática pedagógica que é transgressora ao reconhecer a alteridade, ao propor trabalho coletivo, ao trazer a comunidade para a escola, ao criticar o currículo e ao modificá-lo em nome da humanização, da libertação, da intervenção no mundo, da criação de relações mais horizontais.
Uma educação decolonial é possível se no chão da escola nossas ações forem no sentido da superação das desigualdades, do preconceito, da opressão; nossa prática pedagógica deve ser no sentido da colaboração, da presença, da construção do sentimento de pertença, do cotidiano crítico e criativo, da empatia.
Ofélia Maria Marcondes